Tales de Mileto e o fim do brainstorm
Você sabe quem foi Tales de Mileto? Já ouviu falar de brainstorm? Será que podemos fazer um link entre aquele que é considerado o primeiro filósofo e o fim da liberdade de pensamento e criatividade? Para pensarmos criticamente e filosoficamente precisamos refletir com sinceridade e vontade de profundidade. Te convido a realizar comigo esse exercício a seguir.
- Veja também: O Mundo Depois de Nós, a modernidade líquida de Zygmunt Bauman e a Programação Neurolinguística.
Tales de Mileto e o fim do brainstorm
O vídeo a seguir é um resumo do conteúdo que você confere na sequência deste artigo. Nele, refletiremos sobre a importância de Tales de Mileto para a evolução do pensamento e sobre como a ausência do livre pensar pode acarretar o fim do brainstorm. Trata-se de uma conversa filosófica sobre a ousadia de buscar soluções criativas para um tempo de imposição de padrões ideológicos como nova norma de vida. Assista:
Quem foi Tales de Mileto?
Soares (2022, p. 65-66), afirma que: “Tales é considerado pela tradição ocidental o precursor da atitude intelectual que ainda hoje chamamos filosofar. […] foi um cidadão grego que viveu a maior parte
de sua vida na cidade de Mileto”.
É interessante perceber que Tales de Mileto tem papel importante para quem quer seguir a trilha do conhecimento aprendendo com os grandes pensadores da história. Filosofar não é apenas buscar o conteúdo que me agrada e está de acordo com a minha visão de mundo, mas confrontar informações em busca da verdadeira sabedoria que atua para resolver problemas da sociedade.
Mas por que este pensador grego é considerado o primeiro filósofo? O que ele fez diferente dos outros estudiosos que existiram antes dele? É o que descobriremos a seguir.
Por que Tales de Mileto é considerado o primeiro filósofo?
Soares (2022, p. 72), nos ajuda a entender o motivo pelo qual Tales de Mileto é considerado o primeiro filósofo: “Relatos antigos formaram a tradição a partir da qual afirmamos que a originalidade de Tales se deriva, em grande parte, de ter sido ele o primeiro cidadão grego a recusar publicamente explicações míticas para a origem do universo. Isso quer dizer que, apesar de todas as cosmogonias antigas recorrerem a divindades em suas explicações da origem do universo, houve um momento em que alguém parece ter exclamado publicamente: ‘– Não foram os deuses os criadores de tudo o que existe!’. Segundo a tradição ocidental, esse alguém foi Tales de Mileto”.
O autor nos mostra que Tales rompeu com a mentalidade dominante que era toda baseada no mito para explicar a maioria das realidades, inclusive a criação do universo. Sair do campo mitológico para entrar no campo da investigação intelectual através da razão foi o passo decisivo que nos faz lembrar de Tales de Mileto como o primeiro filósofo.
Seria a água o princípio de todas as coisas?
Soares (2022, p. 72), mostra como a partir do filósofo de Mileto um elemento natural passou a ser usado como explicação para a origem do universo no lugar do mito: “Defende-se, geralmente, com base principalmente nos escritos de Aristóteles, que Tales recusou as narrativas míticas cosmogônicas sobre a origem do universo ao oferecer em seu lugar a tese de que ‘a água é o princípio original gerador de todas as coisas'”.
A tese de que a água seria o princípio gerador de todas as coisas foi superada através da evolução das investigações e dos métodos científicos. Entretanto, as bases lançadas por Tales de Mileto foram fundamentais para que houvesse uma evolução do saber filosófico e científico.
A seguir, te convido a entender a lógica do brainstorm e que relação podemos fazer dessa prática com o que aprendemos sobre Tales de Mileto.
Seria o fim do brainstorm?
Santo (2015, p. 2-3), nos explica o que é o brainstorm: “É uma ferramenta recente para a concepção de liberação da imaginação, cuja tradução ao pé da letra seria tempestade cerebral. Criada pelo diretor de um banco comercial, colaborador de várias revistas e sócio de uma agência de publicidade, Alex Osborn, foi aplicada pela primeira vez em 1938, e em 1950 foi adotada em universidades americanas […] e onde novas ideias estivessem sendo requisitadas. Desde então, tornou-se um aprendizado obrigatório por todos que aspiram tornar-se mais criativos – qualquer que seja o nível de criatividade que se encontrem, uma vez que nenhum nível é suficiente – e uma pratica indispensável para o espraiamento da visão em qualquer atividade, corporativa ou não”.
Vivemos em uma sociedade fragmentada e polarizada, o que torna a livre exposição de ideias cada vez mais desafiadora. Embora se fale de liberdade e democracia, na prática, em alguns ambientes, somente um viés ideológico é permitido nas discussões. Como ter uma tempestade de ideias se os inspetores do politicamente correto vivem abrindo seus guarda-chuvas?
Quando olhamos para Tales de Mileto, vemos claramente que uma teoria que seria superada futuramente foi extremamente importante para romper com uma tendência anterior e oferecer pressupostos para descobertas posteriores. Por que não entender que a humanidade continua funcionando assim? Com senso crítico e liberdade, é preciso colocar as ideias na mesa (mesmo aquelas que parecem absurdas, sem risco de punição) para que sejam confrontadas, experimentadas e a discussão evolua.
Se governos e instituições só estimularem uma linha de pesquisa adequada aos seus interesses e se os ambientes de discussão intelectual tornarem-se sufocantes para qualquer tese que confronte a ideologia vigente, será o fim do brainstorm, da criatividade, do erro que ensina a acertar, enfim, será o fim da liberdade de pensamento.
Este conteúdo foi útil? Compartilhe!
Referências:
FONSECA, A. O. Tales de Mileto e o fim do brainstorm. Altair Fonseca. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lEMoW5BYHos. Acesso em: 22 de fevereiro de 2024.
SOARES, F. N. A. Tales de Mileto. Humanidades: reflexões e ações. Bento Gonçalves, v. 3, p. 65-84, 2022.
SANTO, Rui. Brainstorming–Tempestade de ideias (BS-TI) ou Como tirar seu time do “cercadinho mental”. Biblioteca temática do empreendedor, 2015.