Padres que escondem a verdade? São Gregório Magno foi muito duro com os pastores que não são capazes de dar a vida por suas ovelhas
Os sacerdotes agem na pessoa de Cristo, o Sumo Sacerdote eterno, que continua se entregando por amor a nós. Mas será que os ministros de Jesus são capazes de dar a vida por suas ovelhas ou se escondem para não incomodarem o mundo e não serem perseguidos? Um texto do Papa São Gregório Magno nos ajuda a refletir sobre a atual crise do clero e mostra a urgente necessidade de orações pelo Papa, pelos Cardeais, Bispos e Presbíteros.
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O pastor seja discreto no silêncio, útil na palavra
Da Regra Pastoral, de São Gregório Magno, papa
(Lib. 2,4: PL 77,30-31) (Séc. VI)
Seja o pastor discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve calar, nem calar o que deve dizer. Pois da mesma forma que uma palavra inconsiderada arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro aqueles a quem poderia instruir. Muitas vezes, pastores imprudentes, temendo perder as boas graças dos homens, têm medo de falar abertamente o que é reto. E segundo a palavra da Verdade, absolutamente não guardam o rebanho com solicitude de pastor, mas, por se esconderem no silêncio, agem como mercenários que fogem à vinda do lobo.
O Senhor, pelo Profeta, repreende estes tais dizendo: Cães mudos que não conseguem ladrar (Is 56,10). De novo queixa-se: Não vos levantastes contra nem opusestes um muro de defesa da casa de Israel, de modo a entrardes em luta no dia do Senhor (Ez 13,5). Levantar-se contra é contradizer sem rebuços aos poderosos do mundo em defesa do rebanho. E entrar em luta no dia do Senhor quer dizer: por amor à justiça resistir aos que lutam pelo erro.
Quando o pastor tem medo de dizer o que é reto, não é o mesmo que dar as costas, calando-se? É claro que se, pelo rebanho, se expõe, opõe um muro contra os inimigos em defesa da casa de Israel. Outra vez, se diz ao povo pecador: Teus profetas viram em teu favor coisas falsas e estultas; não revelavam tua iniquidade a fim de provocar à penitência (Lm 2,14). Na Sagrada Escritura algumas vezes os profetas são chamados de doutores porque, enquanto mostram ser transitórias as coisas presentes, manifestam as que são futuras. A palavra divina censura aqueles que veem falsidades, porque, por medo de corrigir as faltas, lisonjeiam os culpados com vãs promessas de segurança; não revelam de modo nenhum a iniquidade dos pecadores porque calam a palavra de censura.
Por conseguinte, a chave que abre é a palavra da correção porque, ao repreender, revela a falta a quem a cometeu, pois muitas vezes dela não tem consciência. Daí Paulo dizer: Que seja poderoso para exortar na sã doutrina e para convencer os contraditores (Tt 1,9). E Malaquias: Guardem os lábios do sacerdote a ciência; e esperem de sua boca a lei porque é um mensageiro do Senhor dos exércitos (Ml 2,7). Daí o Senhor admoestar por meio de Isaías: Clama, não cesses; qual trombeta ergue tua voz (Is 58,1).
Quem quer que entre para o sacerdócio, recebe o ofício de arauto, porque caminha à frente, proclamando a vinda do rigoroso juiz, que se aproxima. Portanto, se o sacerdote não sabe pregar, que protesto elevará o arauto mudo? Daí se vê por que sobre os primeiros pastores o Espírito Santo pousou em forma de línguas; com efeito, imediatamente impele a falar sobre ele aqueles que inunda de luzes.
Importante: Quando aqueles que deveriam se expor por suas ovelhas demonstram medo e se acovardam diante do avanço do inimigo, os leigos precisam se levantar em oração pela santificação do clero. Nestes tempos obscuros, também é fundamental a leitura orante da Palavra de Deus e do Catecismo da Igreja Católica.
Oração de São João Paulo II pela santificação do clero
Senhor, pelo amor infinito que tendes à vossa Igreja, humildemente vos suplicamos que santifique nossos irmãos presbíteros. Hoje, mais do que nunca, precisamos de santos sacerdotes, que nos façam sentir necessidade de Vós e saudades do céu. Revivei neles, mais uma vez, com a Vossa palavra, com as Vossas virtudes, com Vosso coração.
Partilhai com eles o Vosso amor à cruz, para que sejam pobres e humildes como Vós, puros como a hóstia que seguram, e fortes como os mártires de todos os tempos.
Tornai-os Vossos íntimos e confidentes, de tal modo que aproximando-nos deles, possamos reconhecer-Vos, rever a Vossa mansidão nos trabalhos de Seu ministério e regozijar-nos novamente com a Vossa santa bondade em cada gesto de sua pessoa. Em troca de tão grande favor, prometendo-Vos cumprir mais fielmente Vossa santa vontade e, sobretudo, abraçar todo dia, com amor, a cruz que Vós nos ofereceis, pedimos-Vos: escutai-nos Senhor.
Referências:
ILITURGIA. Ofício das Leituras. CNBB. Brasília, 2021. Disponível em: <https://www.iliturgia.com.br/>. Acesso em: 8 out. 2023.
Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero. Diocese de Apucarana. Apucarana, PR. 2020. Disponível em: <https://diocesedeapucarana.com.br/portal/noticia/1188/dia-mundial-de-oracao-pela-santificacao-do-clero>. Acesso em: 9 out. 2023.