Antes de entendermos de fato o que é a contemplação precisamos saber que, ao contrário do que muitos dizem, ela não é uma realidade possível apenas para os grandes santos. Da maneira que este assunto é normalmente tratado pode parecer algo muito distante para nós, pobres mortais e pecadores. Porém, com a ajuda amorosa e paciente de São Francisco de Sales, vamos entender e almejar uma vida verdadeiramente contemplativa que é acessível para todos nós.

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O recolhimento amoroso é uma graça de Deus

Nosso entendimento precisa dar alguns passos antes da contemplação. O recolhimento amoroso da alma na contemplação não depende de nossas capacidades e merecimentos, mas da graça de Deus. Entretanto, saiba que é apenas em um coração generoso, humilde e aberto que o senhor pode agir sem reservas. Vejamos o que nos ensina São Francisco de Sales:

“O recolhimento amoroso da alma na contemplação não se faz por ordem do amor, mas pelo próprio amor: isto é, nós não o fazemos por nós mesmos, por eleição, tanto que não está em nosso poder tê-lo quando queremos e não depende de nosso cuidado; mas Deus o faz em nós por sua santíssima graça, quando lhe apraz”.

No livro Contemplação Sobrenatural, Pe. Júlio Maria de Lombaerde nos explica que a contemplação é o destino para o qual caminha a vida espiritual: “A meditação, os outros exercícios espirituais e a prática das virtudes encaminham para ela as almas generosas”, diz. Em sua obra, o sacerdote também deixa claro que as almas que se preparam devota e fielmente em algum momento serão agraciadas por Deus com ocasiões propícias às graças especiais que permitirão contemplar.

Mas o que é a contemplação?

São Francisco de Sales nos explica essa realidade espiritual com a doçura de um homem que fazia tudo por amor a Deus:

“A contemplação não é outra coisa senão uma amorosa, simples e permanente atenção do espírito às coisas divinas. Compreendereis isto comodamente pela comparação da meditação com ela. As pequenas abelhas chamam-se ninfas até fazerem mel; dali em diante passam a chamar-se abelhas. Assim a oração chama-se meditação até que tenha produzido o mel da devoção: depois ela se converte em contemplação”.

É preciso buscar a união com Deus

A alma apaixonada por Deus busca unir-se ao seu Amado por meio da oração, meditação e atos piedosos. Há sim um esforço humano que é recompensado por Deus com seu beijo de amor na contemplação. Explica São Francisco de Sales:

“A oração e a teologia mística não são outra coisa senão uma conversação pela qual a alma se entretém amorosamente com Deus por sua amável bondade, para unir-se e confundir-se com ele”.

Contemplação para iniciantes

Embora algumas coisas pareçam acessíveis apenas para os grandes santos, Deus em sua infinita misericórdia distribui Seu amor a todos os seus filhos amados. E se você quer fazer a sua parte para alcançar essa graça sobrenatural, acolha os conselhos de São Francisco de Sales:

“Ao começar, nós consideramos a bondade de Deus, para excitar a nossa vontade a amá-lo; mas o amor estando formado em nossos corações, nós consideramos esta mesma bondade, para contentar a nosso amor que não pode saciar-se de sempre ver o que ele ama. Em resumo, a meditação é a mãe do amor, mas a contemplação é a sua filha”.

Dicas para alcançar a contemplação

Como mestre dedicado e prestativo, São Francisco de Sales tenta deixar tudo claro e nos dá dicas para alcançarmos a contemplação:

“Ora, tanto quanto para atingir a contemplação nós temos necessidade de ouvir a palavra de Deus, de ler livros devotos, de orar, de meditar, de entoar cânticos e formar bons pensamentos: por isso a santa contemplação, sendo o fim e o alvo a que tendem todos estes exercícios, eles todos se reduzem a ela”.

A contemplação não é só para os grandes santos

Finalizamos o conteúdo de hoje com uma afirmação do Pe. Júlio Maria de Lombaerde para nos fazer desejar a contemplação: “Geralmente considera-se a contemplação como um fato extraordinário, ao qual não podem aspirar senão algumas almas privilegiadas, ou melhor, que Deus dá excepcionalmente a alguns privilegiados, quando, ao contrário, como o diz São Francisco de Sales, é o fim e o alvo a que devem tender todos os outros exercícios”.