Qual é o lado da Igreja na política? É pecado ser de direita ou de esquerda?
Qual é o lado da Igreja na política? É pecado ser de direita ou de esquerda? Antes de tudo, precisamos dizer com todas as letras que a Igreja de Cristo é Católica, ou seja, universal, aberta a todos e, dessa forma, não pode ser partidarizada (ter sua universalidade fechada em um grupo particular) ou ser reduzida à comunidade política. Os fiéis possuem a liberdade de assumir posições legítimas que possam ser discordantes no campo meramente temporal (cf. Gaudium et Spes, 75-76). Mas o que é legítimo para a Igreja no campo político?
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Qual é o lado da Igreja na política?
“É certo que as coisas terrenas e as que, na condição humana, transcendem este mundo, se encontram intimamente ligadas; a própria Igreja usa das coisas temporais, na medida em que a sua missão o exige. Mas ela não coloca a sua esperança nos privilégios que lhe oferece a autoridade civil; mais ainda, ela renunciará ao exercício de alguns direitos legitimamente adquiridos, quando verificar que o seu uso põe em causa a sinceridade do seu testemunho ou que novas condições de vida exigem outras disposições. Porém, sempre lhe deve ser permitido pregar com verdadeira liberdade a fé; ensinar a sua doutrina acerca da sociedade; exercer sem entraves a própria missão entre os homens; e pronunciar o seu juízo moral mesmo acerca das realidades políticas, sempre que os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem e utilizando todos e só aqueles meios que são conformes com o Evangelho e, segundo a variedade dos tempos e circunstâncias, são para o bem de todos” (Gaudium et Spes, 76).
O fiel católico é livre para apoiar partidos de direita, de esquerda ou de centro e também diversas formas de governo, por exemplo, presidencialista, parlamentarista e monárquica. Porém, no campo moral a Gaudium et Spes deixa claro que a Igreja deve pronunciar o seu juízo, inclusive no campo político, quando há risco para a preservação dos direitos fundamentais e para salvação das almas.
Até onde vai a liberdade de escolha no campo político?
O verdadeiro fiel católico realmente é livre para apoiar, no campo temporal, partidos políticos de esquerda, direita e centro, e também defender formas de governo como presidencialista, parlamentarista ou monárquica. Porém, essa liberdade tem limites, já que um católico deve obedecer a Igreja no campo moral e isso não o deixa livre para escolher um programa político conforme o seu gosto pessoal. Por exemplo, não se pode ser verdadeiro(a) católico(a) e comunista/socialista, defender o aborto, a eutanásia ou a ideologia de gênero.
Isso não é a minha opinião, é o que diz o Catecismo da Igreja Católica, vejamos:
CIC – 2425. A Igreja rejeitou as ideologias totalitárias e ateias, associadas, nos tempos modernos, ao “comunismo” ou ao “socialismo”. Por outro lado, recusou, na prática do “capitalismo”, o individualismo e o primado absoluto da lei do mercado sobre o trabalho humano (Cf. João Paulo II, Enc. Centesimus annus, 10: AAS 83 (1991) 804-806; Ibid., 13: AAS 83 (1991) 809-810; Ibid., 44: AAS 83 (1991) 848-849).
Aos que dizem que o Papa Francisco é comunista, o próprio pontífice desmente:
O católico pode votar em partidos que defendem o aborto?
Sobre partidos defensores do aborto, mas que se colocam com firmeza a favor de outros direitos humanos, ensina São João Paulo II que seria “totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até a morte natural” (cf. Christifideles laici, 38). Sobre o aborto, temos um conteúdo mais completo aqui.
A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé emitiu, por sua vez, com aprovação papal, em 24/11/2002, uma Nota endereçada aos Bispos e, de modo especial, aos políticos católicos e a todos os fiéis leigos chamados a tomar parte na vida pública e política nas sociedades democráticas com o alerta que segue: “a consciência cristã bem formada não permite a ninguém favorecer, com o próprio voto, a atuação de um programa político ou de uma só lei, onde todos os conteúdos fundamentais da fé e da moral sejam subvertidos” (n. 4). Afinal, quem, consciente e livremente, coopera, por ação ou pela omissão, com o mal, é seu cúmplice e comete pecado (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1868).
Um alerta dado em 2021
Diante de tanta discórdia e divisão causadas pela doença interior e alimentada pelo cenário político, vemos muitas pessoas que podem cair em pecados graves. O ódio até as últimas consequências levanta muros que parecem intransponíveis nas famílias, escolas, locais de trabalho e na sociedade como um todo. Para amolecer a dureza dos corações, somente a ação do Espírito Santo de Deus, mas é preciso que estejamos abertos para o diálogo e o amor. Veja um alerta que fiz em 2021 sobre o cenário político de nosso país:
Você já escolheu o seu lado na política?
Hoje você entendeu porque a Igreja não é de direita, de esquerda ou de centro e nem opta por este ou aquele sistema de governo, mas recusa, sim, programas políticos partidários ou legislações que afrontam a fé e a moral. Acima das posições humanas, escolha sempre estar ao lado de Jesus Cristo na caminhada rumo ao Céu. Não arrisque a sua salvação em ideologias contrárias à nossa fé e vote em oração para ter discernimento nesse momento tão importante e desafiador.