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A resposta de G. K. Chesterton para quem acha que a religião cresce quando agrada a maioria - Altair Fonseca
G. K. Chesterton e a destruição da Igreja Católica
Reflexões e Meditações

A resposta de G. K. Chesterton para quem acha que a religião cresce quando agrada a maioria

Atualmente, muita gente defende que a fé católica deve ser transformada para abranger os desejos de uma humanidade que não sabe o que quer. Você percebe a incoerência em quem diz que defende a fé ao mesmo tempo em que defende uma total flexibilização desta mesma fé e a destruição dos seus alicerces? O escritor inglês G. K. Chesterton percebeu e nos ajuda a acordar.

A resposta de G. K. Chesterton para quem acha que a religião cresce quando agrada a maioria

G. K. Chesterton, no livro O que há de errado com o mundo, disse: “Não utilizem um substantivo e depois um adjetivo que contradiga o substantivo. O adjetivo qualifica, não contradiz. Não digam ‘deem-me um patriotismo livre de fronteiras’, porque é como se dissessem ‘deem-me um pastel de carne sem carne’. Não digam ‘anseio por uma religião mais ampla, na qual não existam dogmas especiais’, porque seria como dizer ‘quero um quadrúpede maior que não tenha patas’. Quadrúpede significa algo com quatro patas e religião significa aquilo que compromete o homem com uma doutrina universal. Não deixem que o dócil substantivo seja assassinado por um adjetivo exuberante e jubiloso”.

Na obra citada, Chesterton nos oferece uma reflexão profunda sobre o uso correto da linguagem e a importância de manter a coerência entre substantivos, adjetivos e testemunho de vida cristão. Ele nos alerta contra a contradição interna que surge ao tentar qualificar um substantivo com um adjetivo que nega sua essência. Esta análise, alinhada com a visão católica, pode ser enriquecida com ensinamentos de santos e papas que enfatizaram a importância da verdade e da precisão na linguagem e no pensamento.

G. K. Chesterton e a morte do significado
G. K. Chesterton e a morte do significado

O grande escritor inglês critica a tendência de usar adjetivos que contradizem os substantivos que eles deveriam qualificar, utilizando exemplos como “patriotismo livre de fronteiras” e “religião sem dogmas”. Para Chesterton, tais expressões são ilógicas, assim como seria pedir “um pastel de carne sem carne”. Ele argumenta que os adjetivos devem qualificar e não contradizer os substantivos, preservando a integridade e o significado das palavras. Tais táticas de ocultação do real significado dos termos tem sido utilizada na atual guerra de narrativas, na qual quem não busca o mínimo de conhecimento mais aprofundado, acaba sendo “baleado” pela mentira e “morre” na ignorância.

A Igreja Católica preza pela clareza e pela verdade

A abordagem discutida até aqui concorda profundamente com os ensinamentos da Igreja Católica. A precisão na linguagem é fundamental para a sã doutrina, que se baseia na clareza e na verdade. Santo Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, enfatiza que a verdade é a conformidade do intelecto com a realidade (adaequatio intellectus et rei). Usar adjetivos que contradizem substantivos viola essa conformidade, criando confusão e desorientação.

O Papa São João Paulo II, em sua encíclica Fides et Ratio, também sublinha a importância da coerência e da clareza no discurso humano. Ele escreve sobre a necessidade de uma linguagem que respeite a verdade e a realidade, afirmando que a fé e a razão são complementares e que a linguagem deve refletir essa harmonia: “A fé e a razão são como as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecê-Lo para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio” (Fides et Ratio, 1998).

As palavras inspiradas de São João Paulo II corrobora a visão de Chesterton sobre a importância da integridade na linguagem. Quando os adjetivos contradizem os substantivos, não só a linguagem se torna incoerente, mas também se compromete a capacidade humana de alcançar a verdade. Eis o que tem acontecido em muitas paróquias, que sofrem com homilias progressistas, pautadas em visões políticas que contradizem o Evangelho.

As asas da fé e da razão
As asas da fé e da razão

Outro exemplo pertinente é a ênfase de Santo Agostinho na confissão da fé. Em suas Confissões, ele destaca a importância de uma linguagem que seja fiel à verdade interior da alma e da doutrina cristã. Para ele, a confissão não é apenas uma expressão de arrependimento, mas um compromisso com a verdade: “E eis que, onde eu estava a procurar a verdade, lá estava o meu Deus, o Deus da verdade, que queria abrir-me os olhos para a verdade” (Confissões, Livro IX, Capítulo X).

Assim, a advertência de Chesterton contra o uso de adjetivos que contradizem substantivos é uma chamada à integridade da linguagem e à busca pela verdade. A coerência na linguagem reflete a coerência na fé e na razão, um princípio central da doutrina católica. Os santos e papas citados reforçam a importância de usar a linguagem como um instrumento de verdade, não de contradição.

Santo Agostinho sobre a busca pela verdade
Santo Agostinho sobre a busca pela verdade

Em suma, a análise de Chesterton sobre o uso correto da linguagem ressoa profundamente com os ensinamentos católicos. A fé católica valoriza a verdade e a precisão na linguagem como reflexo da verdade divina. Portanto, a advertência contra adjetivos contraditórios é uma defesa da integridade e da clareza que devem caracterizar tanto a linguagem quanto a fé cristã.

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Referências:

AQUINO, T. Summa Teológica. São Paulo: Loyola, 2001.

CHESTERTON, G. K. O que há de errado com o mundo. 1. ed. São Paulo: Ecclesiae, 2013.

JOÃO PAULO II. Fides et Ratio: sobre as relações entre fé e razão. Vaticano, 1998. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_14091998_fides-et-ratio.html. Acesso em: [data].

AGOSTINHO. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. São Paulo: Paulus, 2008.

Autor

○ Bacharel em Publicidade e Propaganda ○ Graduando em Filosofia ○ Partilho sobre Filosofia e Fé Católica ○ Link para acessar o Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0931986249871001