O cardeal Víctor Manuel “Tucho” Fernández é homem de confiança do Papa Francisco, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, principal responsável por lutar pela defesa da fé católica no mundo inteiro. Recentemente, um livro de 1998 com temas provocantes e de conteúdo sexual, ressurgiu, trazendo mais controvérsia em torno do cardeal argentino, autor da polêmica Fiducia suplicans, que permite bênçãos a pares irregulares.
Que o Espírito Santo de Deus nos dê o discernimento para termos contato com cada informação a seguir e transformá-las em matéria de intensa oração pela santificação do clero, tão necessitado de nossas preces e penitências.
Paixão Mística: Espiritualidade e Sensualidade, um livro herético?
Paixão Mística: Espiritualidade e Sensualidade é um livro escrito há 26 anos que inclui descrições explícitas das relações sexuais humanas e uma discussão sobre o que o teólogo argentino descreve como “orgasmo místico”. Publicado originalmente no México, o livro de quase 100 páginas retrata com riqueza de detalhes um imaginário encontro erótico com Jesus Cristo no litoral da Galiléia, que Fernández disse ter sido baseado em uma experiência espiritual que lhe foi revelada por uma menina de 16 anos.
Assim como Cura-me com tua Boca, Paixão Mística foi ignorado pela lista oficial de obras de Fernández publicada pela Santa Sé quando ele foi nomeado chefe do Dicastério para a Doutrina da Fé”. Como a verdade não permanece oculta por muito tempo, o livro veio à tona e ganhou renovada atenção após a publicação do blog católico argentino Caminante Wanderer, que descreveu “Paixão Mística” como “imprudente” e “uma ocasião de pecado” para potenciais leitores.
São Felipe Néri, ao falar sobre as ocasiões de pecado, disse: “A batalha contra o pecado é a única batalha na qual vence aquele que foge.”
O conselho do santo parece ter sido ignorado por “Tucho”, já que o cardeal investiu muito tempo e esforço na produção de material que constitui exatamente uma ocasião de pecado. “Farei do meu jeito”, disse quando perguntado sobre como iria chefiar o Dicastério para a Doutrina da Fé.
Mas a Igreja não reconhece a obra de Deus na sexualidade humana?
Sim, sabemos que a Igreja Católica já fez a relação entre a sexualidade humana e a intimidade com Deus, inclusive em obras como a Teologia do Corpo, do Papa São João Paulo II. Entretanto, a obra de Fernández ultrapassa os limites com suas descrições explícitas e pelo seu enfoque no prazer sexual não apenas como alegoria da união divina, mas fazendo parte dela, principalmente nos capítulos finais do livro.
Citando grandes santos e místicos como Santo Agostinho, São João da Cruz, Santa Teresa d’Ávila e Beata Ângela de Foligno, Fernández centra-se na tradição do amor divino da Igreja e foca o livro na experiência do êxtase divino não só na esfera espiritual, mas também na esfera corporal e sexual.
“Os testemunhos dos místicos mostram-nos que a relação com Deus também pode afetar de modo benéfico o nível erótico do homem, até à sua sexualidade”, escreveu o atual prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé.
Um ato sexual com Jesus Cristo, com a permissão da Virgem Maria?
Um grande escândalo, principalmente devido a sua atual posição hierárquica na Igreja, é a descrição de Fernández de “uma experiência de amor, um encontro apaixonado com Jesus, que uma adolescente de dezesseis anos me contou”, presente no sexto capítulo do livro, intitulado “Minha linda, vem”.
O texto conta, com riqueza de detalhes, o encontro com Cristo no mar da Galileia enquanto ele se banha e se deita na areia, e inclui uma longa descrição de beijos e carícias em seu corpo da cabeça aos pés. Ao longo da passagem, a Virgem Maria Santíssima é retratada aguardando e permitindo com aprovação que o encontro acontecesse.
Especial atenção para o orgasmo
Na seção final do livro, o homem de confiança do Papa Francisco enfocou o orgasmo humano e a sua relação com a intimidade divina, com riqueza de detalhes e descrições explícitas e provocantes, inadequadas para qualquer pessoa, mas ainda mais para um religioso celibatário.
No capítulo “Orgasmo Masculino e Feminino”, Fernández dá uma descrição extensa e detalhada das relações sexuais, e avalia as diferenças nas preferências e experiências de orgasmo masculinas e femininas. Fernández conclui que “na experiência mística, Deus toca o centro mais íntimo de amor e prazer, um centro onde não importa muito se somos homem ou mulher”.
No capítulo “O Caminho para o Orgasmo”, Fernandez parece sugerir que os santos experimentaram prazer sexual em suas uniões místicas com Deus.
“Alguns santos começaram a ter experiências inebriantes de Deus logo após sua conversão, ou na mesma conversão; outros, como Santa Teresa de Ávila, alcançaram estas experiências depois de muitos anos de aridez espiritual. Santa Teresinha de Lisieux, embora se sentisse ternamente amada por Deus, nunca teve experiências muito “sensuais” do seu amor, e parece que só alcançou uma alegria transbordante e apaixonada no momento da sua morte, quando o seu rosto se transfigurou e ela disse suas últimas palavras: ‘Eu te amo, oh meu Deus, eu te amo!'”.
Atos homossexuais
O cardeal parece enfocar atos homossexuais ao escrever que uma experiência do amor divino não significará necessariamente “por exemplo, que um homossexual deixará necessariamente de ser homossexual”. Fernández observa “que a graça de Deus pode coexistir com as fraquezas e até com os pecados, quando há um condicionamento muito forte. Nestes casos, a pessoa pode fazer coisas objetivamente pecaminosas, sem ser culpada e sem perder a graça de Deus ou a experiência do seu amor”. Ao analisar este ponto em específico, ao que parece, a Fiducia suplicans é apenas o início do que o cardeal realmente deseja a partir das suas opiniões expostas em suas obras mais polêmicas.
Após refletir sobre como as pessoas podem atingir “uma espécie de orgasmo gratificante na nossa relação com Deus”, “Tucho” escreve no capítulo “Deus no orgasmo do casal” que Deus pode estar presente “quando dois seres humanos se amam e atingem o orgasmo; e esse orgasmo, experimentado na presença de Deus, também pode ser um ato sublime de adoração a Deus”.
Embora Fernández fale de “casais” na sua descrição das relações sexuais, raramente menciona explicitamente o casamento sacramental, no qual a doutrina da Igreja diz ser o único contexto em que as relações sexuais são lícitas.
Em outra passagem, o agora prefeito do dicastério para a Doutrina da Fé condena a masturbação como egoísta, mas descreve as relações sexuais autênticas como apenas vagamente “abertas aos outros”, sem qualquer menção à abertura para gerar uma nova vida.
O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2.366, ensina que: “todo o ato matrimonial deve, por si estar aberto à transmissão da vida” e descreve “os dois significados inerentes ao ato conjugal: união e procriação”.
Numa passagem particularmente explícita, Fernández cita um teólogo muçulmano do século XV, Al Sounouti, que louvou a Deus por tornar os órgãos reprodutivos dos homens “tão duros e retos como lanças” para que pudessem “travar guerra” nas partes correspondentes do corpo das mulheres.
A falta de clareza que confunde os fiéis
A repercussão do livro de Fernándze acontece na ocasião em que a liderança do cardeal argentino do dicastério para a Doutrina da Fé tem sido alvo de um escrutínio após a publicação da declaração Fiducia supplicans, que permite bênçãos a uniões homossexuais e outros pares irregulares. O documento da Santa Sé tem sido criticado pela sua ambiguidade e pela falta de uma consulta mais ampla com os bispos de todo o mundo antes da publicação.
Recentemente, o cardeal emitiu um comunicado de imprensa sem precedentes de 2 mil palavras com o objetivo de esclarecer o dúbio documento. O esclarecimento veio depois de uma resistência mundial, com conferências episcopais inteiras na África e na Europa Oriental e de bispos individuais na América Latina, na Europa e nos EUA, afirmando que não permitiriam as bênçãos descritas nas suas jurisdições.
Conselheiro teológico de longa data do papa Francisco, “Tucho” foi criado cardeal em 30 de setembro de 2023, pouco depois de iniciar suas funções no Dicastério para a Doutrina da Fé. Na sua carta anunciando a indicação, o Papa Francisco escreveu que esperava que Fernández promovesse o “conhecimento teológico” em vez de se concentrar em vez de promover “a perseguição de ‘erros doutrinais'”. O que será que isso quer dizer?
Arrependimento?
O cardeal Víctor Manuel Fernández disse recentemente que “agora não escreveria” algo como o seu livro Paixão Mística: Espiritualidade e sensualidade.
Esta é a terceira vez em pouco mais de seis meses que o cardeal Fernández renega ou tenta emendar os seus próprios escritos. Em julho de 2023, o cardeal Fernández defendeu-se das críticas ao seu livro Cura-me com tua boca: A arte de beijar, de 1995, lançado quando tinha dez anos de padre e também já era doutor em Teologia. O atual prefeito do dicastério para a Doutrina da Fé (DDF) disse que era uma catequese para adolescentes. Em uma publicação feita no dia 3 de julho em sua conta no Facebook, Fernández disse: “Há anos eles se referem a um livrinho meu que não existe mais, que falava sobre o beijo”.
Se está arrependido, porque o cardeal segue os mesmos princípios heterodoxos na sua condução do dicastério para a Doutrina da Fé?
Diante de todos esses fatos, a obrigação de todos os católicos do mundo inteiro é intensificar as orações e cobrar mais clareza por parte de todo o clero, a começar sobre seus párocos, para que voltem a ensinar com objetividade o caminho para a salvação eterna, deixando de lado as divisões e confusões que o maligno tenta plantar. Que Deus tenha misericórdia de todos nós e nos conduza à vida eterna.
Referências:
LIEDL, J. Livro do prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé traz passagens eróticas explícitas. Disponível em: <https://www.acidigital.com/noticia/57077/livro-do-prefeito-do-dicasterio-para-a-doutrina-da-fe-traz-passagens-eroticas-explicitas> Acesso em: 9 de janeiro de 2024.
SILVA, W. S. Cardeal Fernández renega seu livro sobre “espiritualidade e sensualidade”. Disponível em: <https://www.acidigital.com/noticia/57080/cardeal-fernandez-renega-seu-livro-sobre-espiritualidade-e-sensualidade> Acesso em: 9 de janeiro de 2024.