Como surgiu o Natal e qual o seu significado?
Como surgiu o Natal e qual o seu significado? Atualmente, em um mundo cada vez mais materialista, percebemos uma cultura consumista que relaciona a data com Papai Noel, presentes, árvore decorada, mesa farta e muitos excessos. Será que é só isso?
Qual é o verdadeiro significado do natal?
Na Igreja Católica, o Natal é uma solenidade. As solenidades são as celebrações de grau mais alto, reservadas aos mistérios mais importantes da nossa fé.
Celebrar a Solenidade do Natal do Senhor não significa somente recordar um acontecimento do passado, mas algo que toca concretamente a nossa própria história. Um menino nasceu verdadeiramente, não para servir de enfeite nos presépios, não para trazer um feriado de fim de ano, não para entrar nas páginas frias dos livros de história; nasceu sim, mas “para nós”, para nos salvar, para mudar e transformar por completo a nossa vida.
“Eis que vos anuncio uma Boa-Nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2, 10-11).
São Leão Magno, em uma de suas homilias, disse: “Embora cada um tenha sido chamado num momento determinado para fazer parte do povo do Senhor, e todos os filhos da Igreja sejam diversos na sucessão dos tempos, a totalidade dos fiéis, saída da fonte batismal, crucificada com Cristo na sua Paixão, ressuscitada na sua Ressurreição e colocada à direita do Pai na sua Ascensão, também nasceu com ele neste Natal”.
A partir da inspirada fala de São Leão Magno, percebemos que, na prática, todo dia é Natal para os cristãos batizados que permitem que o Senhor venha nascer em seus corações, gerando frutos de conversão, amor e salvação.
Ao passarmos em família ou em amigos as festividades de cada fim de ano, não nos esqueçamos dessas verdades que dão sentido não só ao Natal e ao Ano-Novo, mas a toda a nossa existência.
Como surgiu o Natal?
Nos séculos iniciais do cristianismo, a Páscoa era a celebração litúrgica central, atualizada em cada Domingo, como o Dia do Senhor. Já no século II inicia-se também a celebração anual da Páscoa, em data próxima da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Portanto, no início da era cristã, o Natal não era celebrado liturgicamente. Mas então, como surgiu o Natal?
Embora celebremos o nascimento de Jesus Cristo no dia 25 de dezembro, não há certeza sobre sua data histórica, já que não temos nenhum dado bíblico que nos indique o dia para a celebração do Natal do Senhor. Foram dois os fatos que, no século IV, influenciaram para que isso acontecesse: a posição cristã diante a festa pagã em homenagem ao Nascimento do sol invencível (Natalis solis invicti) e a questão cristológica, ou seja, quem é Jesus Cristo?
Tudo indica que a origem histórica da celebração do Natal tem suas raízes numa festa pagã. Um cronógrafo do ano 354 notificou, num dos seus calendários, a celebração do Natal do sol invencível (Natalis solis invicti), no dia 25 de dezembro. Neste calendário civil ele acrescenta, na mesma data: nascimento de Cristo em Belém da Judéia (VIII Kal. Ianuarii natus Christus in Bethleem Iudeae).
Por que 25 de dezembro?
O culto ao deus Sol é muito comum entre os povos antigos. Roma, por exemplo, lhe dava importância oficial no Império, especialmente nos séculos III e IV, tentando ofuscar o cristianismo. O centro festivo desse culto pagão acontecia no solstício de inverno (dias mais curtos e noites mais longas), celebrado no dia 25 de dezembro. Nessa época era comemorada a vitória do deus Sol (luz) que anualmente vencia as trevas. Para os cristãos, Jesus Cristo é a Luz que vence as trevas do pecado; o Menino cujo nascimento é celebrado é a luz que brilhou nas trevas (Is 9, 1), é o sol nascente que nos veio visitar (Lc 1, 78), é a Luz do mundo e quem o segue não anda nas trevas (Jo 8, 12).
Concluem os estudiosos que já em 336 o Natal cristão era celebrado em Roma e depois se espalhou para as demais comunidades.
A verdadeira inculturação
Percebemos que a verdadeira inculturação do cristianismo em meio à cultura e religiosidade pagã acontece quando o essencial da fé brilha e ilumina as consciências adormecidas. Não se trata de trazer elementos de outras religiões para se misturarem aos rituais católicos (como se tenta fazer hoje) criando uma massa amorfa que confunde os fiéis em seu sincretismo estéril. Trata-se, na verdade, de levar Cristo aos que não o conhecem para que Ele transforme todos os ambientes e reine nos corações.
A questão cristológica
Outro fator que contribuiu para que acontecesse a celebração do Natal cristão, foi a chamada Questão cristológica do séc. IV, que despertou a atenção para a infância de Jesus. A Igreja reagiu diante de heresias que negavam a divindade da Pessoa de Jesus Cristo, com vários concílios (Nicéia, em 325; Constantinopla, em 381; Éfeso, em 431; Calcedônia, em 451), definindo o dogma cristológico: Jesus Cristo é homem-Deus, uma pessoa com duas naturezas, a divina e a humana. Diante da definição da fé, surge sua consequente celebração.
Aniversário de Jesus ou algo mais?
Inicialmente, o Natal é considerado como celebração de aniversário do nascimento histórico de Jesus Cristo (Santo Agostinho). São Leão Magno (+ 461) amadurece essa teologia, afirmando que a celebração do Natal é mais que aniversário ou uma evocação histórica. Ele vê a presença do mistério celebrado, do hoje da encarnação (Sacramentum). E assim, com São Leão, voltamos ao tópico inicial deste conteúdo: o Natal é considerado em união com o mistério pascal, como seu início. Uma vez definida a celebração do Natal, não foi difícil para que surgisse o Ciclo natalino, com seu tempo de preparação (Advento) e sua continuação (Epifania e Batismo do Senhor).
Aprenda a ter um feliz Natal
Focadas no materialismo que busca paganizar a festa católica e tirar Cristo do centro, muitas pessoas acabam ficando tristes no tempo do Natal. Seja por dificuldades financeiras que não permitem a troca de presentes e uma ceia farta, seja pela ausência de alguém querido, as preocupações do mundo acabam ofuscando o que deveria ser uma grande festa espiritual que transborda no material.
Somos convidados a participar dessa grande alegria, já que nasceu para nós o Salvador. Ele não apenas nasce, mas nos convida a participarmos do mistério da fé com a máxima profundidade que nossa natureza limitada nos permitir. Saibamos que o Senhor vem sempre em socorro à nossa fraqueza.
Padre Lício de Araújo Vale, nos ajuda a entender que Jesus sendo Deus esvaziou-se e tornou-se homem sem deixar de ser Deus. Mesmo assumindo um corpo humano, n’Ele residiu toda a plenitude da divindade. Ele veio para nos revelar Deus. Ele é a exata expressão do ser de Deus. Nele está todo o resplendor da glória divina. O Verbo habitou entre nós cheio de graça e de verdade. Quem vê a Jesus vê o próprio Deus, pois ele e o Pai são um.
O Natal é a sublime mensagem de que Deus enviou seu Filho Unigênito e o Filho voluntariamente veio, no poder do Espírito Santo, para dar sua vida em resgate do seu povo. Jesus nasceu não num palácio, cercado de glória e poder, mas numa estrebaria humilde, pois entrou no mundo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Veio para estabelecer seu reino de graça em nossos corações e preparar-nos para o seu reino de glória. Veio não para brandir a espada da condenação, mas oferecer-nos o presente da salvação, desde que queiramos recebê-lo com as disposições necessárias. Você quer ter um feliz Natal?
Referências:
VALE, L. A. A importância do Natal. Vatican News, 2022. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-12/importancia-natal.html> Acesso em: 7 de dezembro de 2023.
EQUIPE CHRISTO NIHIL PRAEPONERE. O Natal de Cristo e o nosso natal. Padre Paulo Ricardo, 2016. Disponível em: <https://padrepauloricardo.org/blog/o-natal-de-cristo-e-o-nosso-natal> Acesso em: 6 de dezembro de 2023.
DILLI, A. A. Origem da celebração do Natal. Xaverianos, 2022. Disponível em: <https://xaverianos.org.br/noticias-e-artigos/teologia/2559-origem-da-celebracao-do-natal> Acesso em: 7 de dezembro de 2023.