Se você tem medo de não se salvar, um medo paralisante, que quase te dá uma certeza de condenação, uma culpa sufocante, precisa entender um pouco mais sobre o plano de Deus. Em Seu infinito amor, o Senhor revelou para nós um caminho possível, no qual Ele mesmo caminha conosco dando todo o auxílio necessário. Cair no desespero é a atitude dos soberbos, que querem alcançar a salvação pelos próprios esforços, sem pedir ajuda a Deus na oração, o que seria impossível.
Veja também:
Você tem medo de não se salvar?
Sabemos que a porta é estreita e que Jesus veio levar a lei à perfeição. Olhando atentamente todos os ensinamentos do Senhor, pode parecer ao primeiro contato que a salvação é uma tarefa impossível. Sim, impossível para os homens, mas para Deus, nada é impossível. O medo sobre a salvação toma conta das nossas vidas quando deixamos de ouvir a voz de Deus e somos levados pelas preocupações humanas, meramente carnais. É tempo de voltar o nosso olhar para o que realmente importa.
Incentivo ao caminho da salvação
O início da Segunda Carta de São Pedro (2Pd 1,1-11) nos serve como ótimo ponto de partida para a nossa meditação sobre a salvação:
“Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco receberam a mesma fé, na justiça que vem de nosso Deus e salvador Jesus Cristo. Graça e paz vos sejam concedidas abundantemente, porque conheceis Deus e Jesus, nosso Senhor. O seu divino poder nos deu tudo o que contribui para a vida e para a piedade, mediante o conhecimento daquele que, pela sua própria glória e virtude, nos chamou. Por meio de tudo isso nos foram dadas as preciosas promessas, as maiores que há, a fim de que vos tornásseis participantes da natureza divina, depois de libertos da corrupção, da concupiscência no mundo. Por isso mesmo, dedicai todo o esforço em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, ao conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança, à perseverança a piedade, à piedade o amor fraterno e ao amor fraterno, a caridade. Se estas virtudes existirem e crescerem em vós, não vos deixarão vazios e estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas quem delas carece é um míope, um cego: esqueceu-se da purificação de seus pecados de outrora. Por isso, irmãos, cuidai cada vez mais de confirmar a vossa vocação e eleição. Procedendo assim, jamais tropeçareis. Desta maneira vos será largamente proporcionado o acesso ao reino eterno de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo”.
Podemos ser participantes da natureza divina e todas as promessas que o Senhor fez para nós são grandiosas. Para participarmos de todas essas graças, precisamos nos esforçar pela obediência a Deus e prática das virtudes. Se queremos priorizar apenas as nossas vontades, somos vazios e estéreis; se permitimos Jesus Cristo seja o Senhor de nossas vidas, tudo passa a ser orientado para o Reino dos Céus. Precisamos ter o temor de Deus sempre, e se estamos buscando de verdade a salvação, passamos também a ter mais confiança e menos medos infundados.
A falta de paz nunca vem de Deus
Sabe aquela inquietação, uma falta de paz, um medo de ir para o inferno? Sim, somos miseráveis e pecadores, mas o desespero nunca vem de Deus. Para quem se preocupa de maneira exagerada a ponto de travar, Santo Afonso fala de maneira bem clara e eu fiz um vídeo sobre isso. Assista:
Do que devemos ter medo?
Mons. Charles Pope nos ensina a ter medo do que realmente ameaça a nossa salvação:
“Eis uma coisa apropriada a se temer: o pecado e o que ele faz conosco, individual e coletivamente. Por enquanto, Deus nos envia profetas, graças, sacramentos, a sua Palavra e outros avisos, quando a sua voz ecoa em nossas consciências. Chegará o dia em que a pergunta será feita: “Você quer meu reino e seus valores, ou não?” Sim, este é um medo adequado: a proximidade do dia de nosso julgamento. Prepare-se para encontrar seu Deus, ó pecador.
Eis uma coisa apropriada a se temer: o pecado e o que ele faz conosco.
Muitos não prestam atenção nisso. Correm para os negócios e vivem despreocupados sobre onde passarão a eternidade. Temem perder a saúde, a ruína financeira e o envelhecimento, coisas sobre as quais o Senhor diz: “Não temas”. Preocupam-se com seus corpos, mas não com suas almas. E deixam de temer a única coisa que deveriam: a proximidade do dia do juízo”.
O que Deus quer de nós?
Alcançaremos a paz verdadeira quando entendermos de fato o que Deus quer de nós e acreditarmos na Sua bondade e no Seu amor por nós. Santo Afonso Maria de Ligório nos fala exatamente sobre isso.
“Deus não quer senão o que é melhor para nós, isto é, a nossa santificação. Procuremos, pois, conservar a nossa vontade em repouso, unindo-a sempre à vontade de Deus, tranquilizemos igualmente o nosso espírito pelo pensamento que tudo o que Deus faz é melhor para nós. Quem não fizer assim, nunca achará a verdadeira paz”.
E Santo Afonso continua nos orientando:
“Numa palavra, sejamos solícitos para obedecermos a Deus em tudo o que Ele nos manda ou aconselha, e depois entreguemos-Lhe o cuidado da nossa salvação. Ele se lembrará de nos dispensar todos os meios que nos sejam necessários; porquanto o que põe em Deus toda a sua esperança, está certo da proteção divina. “Eu te livrarei”, assim fala o Senhor pela boca de Jeremias, ‘e não serás entregue nas mãos dos homens que temes; salvarás a tua alma, porque tiveste confiança em mim: Erit tibi anima tua in salutem, quia in me habuisti fiduciam’ (Jr 39, 18)”.
Oração para fazer a vontade de Deus (Santo Afonso Maria de Ligório)
Ó Deus da minha alma, aceitai o sacrifício de toda a minha vontade e de toda minha liberdade. Reconheço que merecia que me virásseis as costas e rejeitásseis esta minha oferta, porque tantas vezes Vos tenho sido infiel; ouço, porém, que ainda mandais que Vos ame de todo o meu coração; por isso estou certo que o aceitais. Entrego tudo à vossa vontade. Fazei-me saber o que de mim desejais, que estou disposto a cumpri-lo. Fazei que Vos ame, e depois disponde de mim e de tudo o que é meu, segundo a vossa vontade. Eis que estou nas vossas mãos; fazei o que julgardes mais útil à minha eterna salvação; porque protesto que só a Vós quero e nada mais. — Ó Mãe de Deus, Maria, obtende-me a santa perseverança. Amém.
Referências:
ILITURGIA. Ofício das Leituras. CNBB. Brasília, 2021. Disponível em: <https://www.iliturgia.com.br/>. Acesso em: 21 nov. 2022.
POPE, Mons. Charles. Medo certo, medo errado. Padrepauloricardo. Cuiabá, 2020. Disponível em: <https://padrepauloricardo.org/blog/medo-certo-medo-errado>. Acesso em: 21 nov. 2022.
LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922.