Muito se fala em liberdade atualmente, mas será que todos que fazem belos discursos estão realmente apresentando um caminho seguro para que sejamos livres? A seguir, vamos saber mais sobre o livre arbítrio utilizando o Catecismo da Igreja Católica e a opinião de alguns dos Padres da Igreja.
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O que é o livre arbítrio?
Antes de prosseguirmos, precisamos definir bem essa realidade e nada melhor do que usar o Catecismo da Igreja Católica para isso. A seguir, você confere alguns parágrafos que falam sobre o livre arbítrio:
1731. “A liberdade é o poder, radicado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, praticando assim, por si mesmo, ações deliberadas. Pelo livre arbítrio, cada qual dispõe de si. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e de maturação na verdade e na bondade. E atinge a sua perfeição quando está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança”.
1732. “Enquanto se não fixa definitivamente no seu bem último, que é Deus, a liberdade implica a possibilidade de escolher entre o bem e o mal, e portanto, de crescer na perfeição ou de falhar e pecar. É ela que caracteriza os atos propriamente humanos. Torna-se fonte de louvor ou de censura, de mérito ou de demérito”.
1733. “Quanto mais o homem fizer o bem, mais livre se torna. Não há verdadeira liberdade senão no serviço do bem e da justiça. A opção pela desobediência e pelo mal é um abuso da liberdade e conduz à escravidão do pecado” (Cf. Rm 6, 17).
A seguir vamos perceber a visão de alguns Padres da Igreja sobre o livre arbítrio e a sua aplicação na nossa vida.
Santo Inácio de Antioquia
“Visto, então, que todas as coisas têm um fim, é-nos colocada diante de nós a vida, fruto da nossa observância [aos preceitos de Deus], e a morte, como resultado da desobediência; todos – conforme a escolha que fizer – encontrarão seu próprio lugar, permitindo escapar da morte e optar pela vida. Observo que duas características diferentes são encontradas nos homens: a verdadeira moeda e a espúria. O verdadeiro fiel é o tipo verdadeiro de moeda, cunhada pelo próprio Deus. O infiel, por sua vez, é uma moeda falsa, ilegal, espúria, falsificada, cunhada não por Deus, mas pelo diabo. Não estou querendo dizer que existem duas naturezas humanas diferentes; existe apenas uma única humanidade que, às vezes, pertence a Deus, e outras vezes, ao diabo. Se alguém é verdadeiramente religioso, será também homem de Deus; mas, se não for religioso, será homem do diabo, não por sua natureza, mas por sua própria escolha.”
São Justino Mártir
“Nós aprendemos dos profetas e afirmamos que esta é a verdade: os castigos e tormentos, assim como as boas recompensas, são dadas a cada um conforme as suas obras. Se não fosse assim, mas tudo acontecesse por destino, não haveria absolutamente livre-arbítrio.Com efeito, se já está determinado que um seja bom e outro mau, nem aquele merece elogio, nem este, vitupério. Se o gênero humano não tem poder de fugir, por livre determinação, do que é vergonhoso e escolher o belo, ele não é irresponsável de nenhuma ação que faça. Mas que o homem é virtuoso e peca por livre escolha, podemos demonstrar pelo seguinte argumento: Vemos que o mesmo sujeito passa de um contrário a outro. Ora, se estivesse determinado ser mau ou bom, não seria capaz de coisas contrárias, nem mudaria com tanta frequência. Na realidade, nem se poderia dizer que uns são bons e outros maus, desde o momento que afirmamos que o destino é a causa de bons e maus, e que realiza coisas contrárias a si mesmo, ou que se deveria tomar como verdade o que já anteriormente insinuamos, isto é, que virtude e maldade são puras palavras, e que só por opinião se tem algo como bom ou mau. Isso, como demonstra a verdadeira razão, é o cúmulo da impiedade e da iniquidade. Afirmamos ser destino ineludível que aqueles que escolheram o bem terão digna recompensa e os que escolheram o contrário, terão igualmente digno castigo. 8 Com efeito, Deus não fez o homem como as outras criaturas. Por exemplo: árvores ou quadrúpedes, que nada podem fazer por livre determinação. Nesse caso, não seria digno de recompensa e elogio, pois não teria escolhido o bem por si mesmo, mas nascido já bom; nem, por ter sido mau, seria castigado justamente, pois não o seria livremente, mas por não ter podido ser algo diferente do que foi.”
Santo Irineu de Lião
“As palavras que diz: ‘Quantas vezes quis reunir os teus filhos e não quiseste’, ilustram bem a antiga lei da liberdade do homem, porque Deus o fez livre desde o início, com a sua vontade e a sua alma para consentir aos desejos de Deus sem ser coagido por ele. Deus não faz violência, e o bom conselho o assiste sempre, e por isso dá o bom conselho a todos, mas também dá ao homem o poder de escolha, como o dera aos anjos, que são seres racionais, para que os que obedecem recebam justamente o bem, dado por Deus e guardado para eles enquanto os desobedientes serão justamente frustrados neste bem e sofrerão o castigo merecido. Pois Deus, na sua bondade, lhes dera o bem, mas eles não o guardaram com diligência e não o julgaram precioso e até desprezaram a excelência da sua bondade. Abandonando e recusando o bem incorrerão no justo juízo de Deus, como o testemunha o apóstolo Paulo na carta aos Romanos, quando diz: ‘Será que desprezas a riqueza de sua bondade, da paciência e da generosidade, desconhecendo que a bondade de Deus te convida à conversão? Pela teimosia e dureza de coração amontoas ira contra ti mesmo para o dia da ira e da revelação do justo julgamento de Deus”. “A glória e a honra’, diz, ‘são para todos os que fazem o bem’. Portanto, Deus ofereceu o bem, como o testemunha o Apóstolo na carta mencionada, e os que o praticam receberão glória e honra por tê-lo feito, quando podiam não fazê-lo; os que não o fazem receberão o justo julgamento de Deus por não ter feito o bem que podiam fazer.“
São Gregório de Nissa
“Para Ele que fez o homem para a participação de Sua própria peculiar bondade, e incorporou nele os instintos de tudo o que era excelente, a fim de que seu desejo pudesse ser transportado por um movimento correspondente em cada caso a sua vontade, nunca teria privado o daquele mais excelente e precioso de todos os bens; Quero dizer o dom implícito em ser seu próprio mestre, e ter uma vontade livre.”
São João Damasceno
“Devemos entender que, embora Deus saiba todas as coisas de antemão, ainda assim Ele não predetermina todas as coisas. Pois Ele sabe de antemão as coisas que estão em nosso poder, mas Ele não pressupõe-as. Pois não é Sua vontade que deve haver maldade nem Ele escolhe obrigar a virtude … Tenha em mente, também, que a virtude é um dom de Deus implantado em nossa natureza, e que Ele mesmo é a fonte e a causa de todo o bem, e sem sua cooperação e ajuda ninguém pode querer ou fazer qualquer coisa boa. Mas nós temos em nosso poder ou permanecer em virtude e seguir a Deus, que nos põe nos caminhos da virtude, ou a desviar-se dos caminhos da virtude, que é habitar na maldade, e seguir o diabo que convoca, mas não pode obrigar-nos . Pois a impiedade é nada mais do que a retirada do bem, assim como a escuridão não é nada mais do que a retirada de luz. Enquanto, em seguida, nós permanecemos no estado natural permanecemos em virtude, mas quando nos desviamos do estado natural, que é de virtude, entramos em um estado antinatural e habitamos em maldade.”
É preciso entender que o livre arbítrio é dado para que façamos a escolha pelo bem e alcancemos mérito diante de Deus. O Senhor não quer nos obrigar a fazer coisas boas, mas quando as fazemos por Ele, encontramos a verdadeira liberdade e felicidade.
Referências:
Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Edição típica Vaticana, Loyola, 2000.
NAGASAWA, Mako A e RODRIGUES, Rafael. Pais da Igreja e o Livre Arbítrio. Apologistas Católicos. Brasil, 2015. Disponível em <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/808-pais-da-igreja-e-o-livre-arbitrio>. Acesso em: 26 out. 2022.