Será que somente a Bíblia é a autoridade sem levar em conta o Papa, os Concílios e a Tradição? Para os reformadores protestantes sim, mas para nós católicos, não. Vejamos o porquê, nesta breve reflexão, à luz da doutrina católica.
Veja também:
Como Deus se comunica com o homem?
No Novo Testamento (NT), Jesus (Deus feito homem), quando esteve presente na terra com a sua natureza humana, como a nossa, ensinava através de parábolas e de forma oral. Também no Antigo Testamento (AT), Deus ao eleger Moisés, como aquele que participaria do projeto de resgate dos israelitas da escravidão do Faraó, por volta de 1.250 a.C se comunicava com ele também de forma oral.
E quando Deus queria se comunicar com o povo, o fazia através da intercessão de Moisés. Veja que interessante, meus irmãos! Pensemos um pouco mais. Sabemos que Deus fez cair maná do céu para alimentar o povo peregrino (Ex16,4), será que Deus não poderia fazer cair do céu as tábuas da Lei – isto é, os 10 mandamentos – já escritos? Sim, poderia; Deus pode tudo. Mas o que ele quis fazer: confiar a Moisés a escrita dos mandamentos nas tábuas de pedra (Ex34,1) para que ele os transmitissem ao povo Hebreu. Meus irmãos isso é esplêndido! É a divina providência. É exatamente o que a Santa Igreja Católica sempre fez, desde a sua instituição por nosso Senhor Jesus Cristo.
Aqui observamos a importância da tradição oral e do magistério. A Igreja peregrina de outrora sendo conduzida por Moisés à terra prometida. Aconteceu isso, também no NT, quando Jesus confia a São Pedro as suas ovelhas “…apascenta as minhas ovelhas.” (Jo21,15-17) e isso acontece hoje através do Papa e seus Bispos que, inspirados pelo Espirito Santo, nos ensinam, nos educam e nos conduzem nesta peregrinação rumo ao céu, em nome da Santa Igreja.
Cada um pode interpretar a Revelação Divina do seu jeito?
Para elucidar ainda mais o entendimento, sabemos que nas repúblicas cada país tem a sua constituição e também existe um órgão com o intuito de zelar pela sua regular aplicabilidade, a qual se faz por meio de interpretações baseadas na doutrina do Direito, com o fim último de regular as relações em sociedade.
Agora, imaginemos uma situação hipotética, em que um país só tenha a constituição e nenhum colegiado para interpretá-la e transmitir para seus cidadãos o que a constituição quer dizer em determinado assunto específico. Será que seus cidadãos teriam a capacidade de interpretá-la tal como o constituinte a concebeu? O que seria desse País? Certamente viraria uma anarquia. Isto é, cada cidadão interpretando-a e aplicando-a da forma que lhe convém. Imaginem a desordem.
Só que quando se tratada da revelação divina, das coisas do alto com diz São Paulo, essa anarquia pode comprometer a nossa salvação, conduzindo muitas almas ao inferno. “Meu povo se perde por falta de conhecimento” (Os4,6).
O erro de Lutero
Quando Lutero propõe que a Palavra de Deus deve ser baseada e interpretada, tão somente, como está na Escritura, ele despreza toda tradição oral e os ensinamentos, que foram transmitidos pelos Apóstolos (testemunhas oculares do Evangelho de Cristo). De certo modo, ele despreza a Esposa de Cristo, a Santa Igreja e todo seu magistério. Como exemplo disso, podemos ver a quantidade de templos protestantes que surgiram advindo da reforma, cada qual com seu magistério próprio, uma verdadeira “anarquia religiosa”.
É por isso que nosso Senhor Jesus Cristo institui a Santa Igreja para que todos sejam um em Cristo Senhor nosso. “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos…” (Ef4,5). E isso só observamos na Igreja Católica, nela está contido o depósito da fé e é ela a fiel guardiã da Palavra de Deus, tal como recebida pelos Apóstolos e conduzida pelo Espírito Santo.
Nem mesmo na Bíblia existe sustentação do princípio da sola scriptura. O que há é uma contradição entre o princípio e a sagrada escritura. Veja o que nos ensina São Paulo: “Portanto, irmãos, ficai firmes; guardai as tradições que vos ensinamos oralmente ou por escrito.” (2Ts2,15) (grifo nosso).
São Paulo nos ensina a guardar as tradições e aquilo que nos foi ensinado oralmente ou por escrito. Aqui o princípio proposto pela reforma encontra uma verdadeira contradição com aquilo que ele mesmo ensina. Como pode este princípio ensinar que devemos tomar como base somente a escritura, desprezando a tradição e o que foi ensinado oralmente, uma vez que ele próprio não é sustentado por essa tese? Eu diria, que estamos diante de um “princípio hipócrita”.
Para concluir, o Catecismo nos ensina:
“A tradição e a Sagrada Escritura estão entre si estreitamente unidas e em comunicação, pois provindo ambas da mesma fonte divina, formam, de certo modo, um só todo e tendem para o mesmo fim” (CIgC,80).
Dessa forma, podemos observar o mal que o princípio sola scriptura, proposto pela heresia protestante, pode provocar em nossa salvação, à medida que ele me faz interpretar a palavra de Deus de acordo com os meus interesses, quebrando a unidade com a Igreja e a tradição.
Na próxima postagem, falaremos brevemente sobre o princípio Solum Verbum Dei, no qual a Igreja católica se baseia para nos ensinar e transmitir a Palavra de Deus, tal como recebida pelos Apóstolos de Cristo.
Que o Espírito Santo nos ilumine!
Abraço fraterno a todos.
Referências:
- Bíblia Sagrada
- Catecismo da Igreja Católica
- Hahn, Scott e Kimberly. Todos os Caminhos Levam a Roma. Ed. Cléofas, 2020.